sobre traumas, vícios e coisas difíceis de lidar.
Descrição do post.
7/26/20243 min read


1. uma plateia assassina.
eu era gorda. era gorda mesmo. sem “mas”, sem nenhum “porém”. eu era gorda e eu era feliz. não posso dizer que era perfeito. existiam inseguranças. todavia, elas não me impediam de sair, de viver e de sorrir. eu era gorda. eu comia pizza e eu comia espinafre. eu era gorda e eu postava foto de cropped. sabe porquê? porque eu me sentia radiante. confiante. eu gostava de ser eu, mesmo que eles não gostassem de quem eu era. eu era gorda e eu era julgada. julgada, simplesmente, pelo fato de ser gorda. no começo não me afetava. era falta do que fazer. era gente idiota e pessoas sem noção. só que, com o tempo, por causa de tudo que eu ouvia, minha cabeça passou a repetir, também, essas palavras odiosas e afirmações desnecessárias. eu era gorda e triste. contudo, apesar de ser triste, eu sabia sorrir. e ah, que sorriso! eu era saudável. eu nadava, corria e pulava. eu fazia exame e tudo estava estável. só que as críticas não paravam. para eles, havia duas opções: ou eu mudava ou eu me matava. acontece que eu acabei fazendo os dois. eu mudei. eu sou magra. eu sou linda e eu estou doente. na verdade, eu sou doente. a doença sou eu e eu sou a doença. eu passo mal todos os dias. os antidepressivos são meus melhores amigos e o espelho, com toda a certeza, é meu maior rival. eu melhoro um pouco. e pioro muito. eu odeio o que eu me tornei. eu odeio ser eu. contudo, hoje, eles me amam. me parabenizam. me aplaudem. eles aplaudem o fato de eu estar morrendo. morrendo aos poucos. morrendo um pouquinho mais todos os dias. morrendo para não ser gorda. às vezes, só queria que a luiza de 17 anos tivesse sido forte. tivesse lutado. pois a luiza de 20 não tem mais força para nada disso. eu sou magra. com diversos “mas” e vários “poréns”. eu sou magra, mas eu sou doente.
2. insistência.
pouco se fala do mal que causa a insistência. menos ainda, se comenta acerca da dor de continuar insistindo. a verdade é que ser insistente não é saudável, não é engraçado e, certamente, não é fácil. a insistência vem do amor. do carinho e da consideração. e é exatamente por isso que ela fode o meu coração. se eu insisto, é porque me importo. é porque quero. e é porque preciso. se eu insisto é porque sei que mesmo não recebendo o que espero, tenho esperanças de que o outro vai me olhar. vai me ver e, quem sabe, não vai me ignorar. não vai ignorar minhas necessidades. não vai ignorar meus limites e nem meu senso de liberdade. geralmente, porém, a insistência não têm frutos. nesse viés, a insistência não traz resultados porque o sentimento que a movimenta é único. é injusto e não é compartilhado. o sentimento vem de apenas um lado. do meu lado. do lado que está machucado e do lado que não aguenta mais chorar. dessa forma, resta só acreditar e insistir. acreditar que, um dia, tudo vai melhorar. resta acreditar e insistir. insistir em algo que não tem mais como continuar. acreditar e insistir. insistir e acreditar. isso tudo de novo e de novo. até o momento em que eu decida que já passou da hora de me valorizar.
3. elas.
eu me odiei. eu me odeio. e eu me odiarei. é a vida (eu acho). bom, desde pequena, sempre tive certeza de que eu odiava ser eu. eu odiava meu cabelo fino, meu braço gordo e meu nariz arrebitado. eu odiava minhas estrias roxas, minhas unhas fracas e meu pé achatado. eu odiava ser eu, justamente, porque eu era eu. eu odiava minha personalidade irritante, minha risada exagerada e, também, todo o resto que podia ser chamado de “meu”. eu nunca quis ser eu. eu queria ser elas. eu queria ser como elas. queria ter um sorriso brilhante, olhos chamativos e unhas gigantes. eu queria ser magra, bonita e amada. queria ser tudo aquilo que eu sentia que me faltava. eu queria ser confiante, talentosa e querida. eu queria ser sua mais do que tudo que eu já quis nessa vida. mas eu não sou. não sou elas. não sou sua. não sou sua porque você é delas. e eu me odeio por isso.
