sobre ser a luiza.

7/26/20245 min read

1. o início: nascimento e suas consequências (para mim)

apesar de ser do jeito que sou hoje, meu nascimento foi como o de qualquer outra pessoa. nasci de cesárea. no bairro onde sempre morei. pesava em torno de dois quilos e meio e, media, somente, quarenta e cinco centímetros de altura. meu rosto estava inchado. meus olhos já eram claros e meu nariz parecia uma pequena bolinha. minha primeira roupa foi de tricô, era rosa clara e combinava com o laço que colocaram em meus cabelos. me chamaram, instantaneamente, de luiza. com “z” e não com “s”. não sei direito o motivo. talvez meus pais gostassem desse nome. ou talvez, só combinasse com quem era antigamente. luiza veio do germânico. é uma derivação de luis. e, sem muita enrolação, significa guerreira ou combatente gloriosa. novamente, não sei, de forma exata, como esta explicação estaria relacionada comigo. não sou ilustre e, muito menos, uma lutadora. desde pequena, sempre fui uma garota normal. gosto de dormir, fujo dos meus problemas e não aguento levantar mais que seis quilos na academia. sou a luiza, porém não uma luiza. difícil de entender, complicado de explicar. uma hora vocês vão começar a compreender, mas até lá, basta tentar acompanhar.

2. vazio.

eu não sei exatamente quem eu sou. eu sei. isso soa estranho. talvez até confuso. como pode eu não saber quem sou se eu vivo nesse mesmo corpo desde que nasci? bom, eu sempre senti um vazio enorme. um vazio que parecia um grande buraco que morava dentro do meu peito. um vazio que me causava dor. ansiedade. inseguranças. e um vazio que tirava minha liberdade. minha dignidade e minha vontade de viver. esse vazio me humilhava, me degradava e me deixava doente. acontece que eu nunca quis o vazio. e acontece, também, que o vazio nunca quis ser vazio. o vazio precisava de alguém. alguém que o completasse. alguém que suprisse sua necessidade de se fazer inteiro. e esse alguém não era eu.

o vazio me odiava. me odiava por deixá-lo ser vazio. dessa forma, o vazio foi procurando sua metade. foi se enchendo e se perdendo. foi sumindo e voltando. foi sendo um vazio completo e um completo vazio. chegou, porém, o dia em que o vazio desabafou para mim. me contou sobre seus medos e sobre seus problemas. o vazio pediu para ser meu amigo. o vazio queria que eu mesma o completasse. e foi, enfim, que eu prometi tentar. quem sabe, assim, um dia, o vazio me preencha da mesma maneira que eu pretendo o ajudar a melhorar?

3. luiza.

querida luiza,

você é poesia. você é música e você é poema. você é um paradoxo ambulante, um parágrafo cheio de antíteses e um rio de contradições. você é triste enquanto sorri. é feliz enquanto chora. suas lágrimas são doces como brigadeiro e seu sorriso é frágil como porcelana. você é luz e escuridão. você é radiante por fora e um poço completamente vazio por dentro. você se ama e se odeia. você se abraça e se espanca. você morre enquanto vive e vive enquanto morre. você é difícil e fácil. difícil de entender e fácil de traduzir. seus olhos são tão marrons que chegam a ser amarelos e tão amarelos que chegam a ser marrons. sua boca é fina e grossa. e sua cabeça é algo inexplicável. você é confusa. estranha. impossível de descrever. a única coisa que posso afirmar com certeza é que você é você. e você é poesia.

carinhosamente,

luiza.

4. chorar.

eu choro muito. choro bastante. e choro por qualquer coisa. não consigo me controlar. é algo sobrenatural. surreal. você fala e eu me ponho a chorar. não gosto. não tolero. não suporto. mas é a vida. a minha vida. não é fácil. não me entendem. não sou levada a sério. nesse sentido, sou emocionada demais. sensível demais. “luiza” demais. eu sei. eu sei. eu sei. sei de tudo isso e de tudo aquilo. temo, porém, que chorar, para mim, não se trata de uma simples escolha. as lágrimas são, então, a consequência natural de uma dor imensurável. dor essa que assombra meu peito. que aterroriza minha vida e que me faz sentir vergonha desse meu jeito imperfeito. diante disso, peço que não me julguem mais. chorar é difícil. chorar é um ato de resistência. um ato de resistência contra a minha dor invencível.

5. drama

durante toda minha vida, ouvi de muitos a minha volta que vim ao mundo sendo dramática demais.

admito que, por bastante tempo, eu permiti. eu aceitei. e eu concordei. concordei que era drama. drama e mais drama. nunca era dor. sempre drama. não era choro, é óbvio que era drama!

foi quando completei 15 anos, porém, que absolutamente tudo mudou. a dor aumentou. a dor, agora, era tanta, que não havia “você é muito dramática”, que me impedisse de chorar. de sentir. de, aos poucos, ir. ir. ir indo. indo para algum lugar. algum lugar que não era aqui.

acho que minha mãe percebeu. ela sabia. sabia que não era drama.

ela tentou me ajudar.

acho que melhorei. bom, ao menos um pouco. porém não mentirei dizendo que já não sinto muita dor. eu sinto. eu choro. eu sangro. sangro de dor e sangro de amor.

pelo menos, hoje, entendo que não era e nem é drama. vejo o esse tal “drama”, então, mais como um tímido.

um tímido pedido de socorro.

um tímido de pedido de socorro, o qual sai da minha garganta durante todas as vezes em que eu morro.

6. sentir

eu sinto demais. sinto dor demais. felicidade demais. tristeza demais. sinto isso e sinto aquilo. sinto tudo.

sinto “o tudo” demais e sinto “o nada” demais.

sinto o que sinto.

sinto o que você sente e sinto o que eles ainda sentirão.

sinto a chuva, o trovão e sinto a escuridão. sinto o sol, o mar e sinto a vida me levar.

sinto, sinto e sinto.

nunca deixo de sentir. de sentir o medo, a alegria e o desespero. de sentir a ansiedade, a lucidez e o exagero.

sinto, sinto e sinto.

não aguento mais. quero me libertar. quero te esquecer. quero deixar de sentir e voltar a voar.

7. sofrer

eu gosto de sofrer.

pois é.

eu sei.

isso soa errado. soa estranho. soa fora do normal.

afinal, por que alguém escolheria sofrer?

eu não sei. não sei mesmo. não entendo e não me entendo. afirmo, porém, que gosto de sofrer. gosto de chorar. gosto de gritar. e gosto de doer.

sofrer me faz sangrar. sofrer me faz sangrar até eu sufocar. sofrer me faz sangrar pelos olhos e pelo coração. sofrer me faz pedir socorro e sofrer me faz cair estirada no chão.

sofrer, porém, me deixa mais bela, mais honesta e mais sincera. sofrer me faz mal e me faz bem. sofrer me excita, me anima e me acelera. sofrer, assim, é, para mim, como uma linda mistura do outono com a primavera.