sobre a natureza.
Descrição do post.
8/2/20253 min read
1. o mar
cresci no rio de janeiro.
cresci cercada por piscinas. cercada por lagoas. e cercada pelo mar.
cresci cercada pelo mar.
ah, o mar! como o explicar?!
o mar é belo. o mar é rei, e o mundo das águas é o seu castelo. o mar é sagrado, azul e gelado. o mar é fechado, honesto, porém, às vezes, meio malcriado.
eu o amo. amo o mar. amo suas ondas e seu gostinho salgado. amo mergulhar, gritar e o fato de ninguém conseguir me escutar.
acontece, porém, que esse mesmo mar me dá medo. me assombra. tira minha segurança e tira minha paz. tira minha vontade de o adentrar e minha vontade de deixar a maré me levar.
o mar me assusta. não sei como fazer esse terror passar. eu o amo, mas sinto que, ao fechar meus olhos, ele tentará me machucar.
2. o sol e a lua
o sol me encanta. o sol me ilumina, me inspira e me balança. a lua, por outro lado, me ensina. a lua me protege e a lua me fascina.
dizem por aí, que o sol e a lua costumavam ser um casal. um casal feliz. um casal bonito. e um casal unido. o sol e a lua se amavam. se amavam demais. se amavam infinitamente. inquestionavelmente. e eternamente.
com a criação do mundo, porém, o sol e a lua foram separados.
o sol, agora, deveria cuidar do dia. deveria surgir nas manhãs e se pôr aos finais de tarde.
já a lua, ficou a cargo das noites. era a lua, então, que deveria vigiar os céus escuros e profundos da madrugada.
o sol e a lua não podiam mais se ver. não podiam mais ficar juntos.
o sol e a lua, assim, tiveram que, por muito tempo, se amar de longe. bem de longe. amar as lembranças e amar o sentimento. amar tudo aquilo e tudo isso, apesar, é claro, de toda a dor e de todo o sofrimento.
um dia, contudo, o universo, ao perceber o quão deprimido o sol estava, foi investigar a situação da lua.
grande erro.
a lua estava pior. a lua chorava, chorava e chorava. a lua não conseguia parar de chorar. ela pedia, implorava e gritava. gritava para o sol vir a buscar.
a lua não aguentava. não aguentava a solidão e a escuridão. não aguentava viver e girar sozinha em um universo tão grande, estando tão cheia de dor no coração.
o sol, nesse sentido, ao ser informado sobre o estado da lua, pediu para o universo a ajudar. surgiram, então, de um ato de piedade, as estrelas para que, possivelmente, a lua pudesse se acalmar.
as estrelas vieram para apoiar a lua. para a fazer companhia. para não a deixar desistir. as estrelas tentaram, mas, sem o sol, a lua apenas pensava em fugir.
o universo, enfim, diante do medo de perder a lua, criou o eclipse. criou o eclipse para que, ao menos às vezes, o sol e a lua pudessem se encontrar. pudessem se reunir e pudessem se amar.
o universo, com isso, queria mostrar. mostrar que não existe amor impossível. mostrar que, apesar das diferenças e dos desafios, o amor é capaz de ser algo incrível.
eu sou como a lua. não consigo ficar só. sem amor, fico tão mal, que chega a dar dó.
3. a chuva.
quando pequena, eu amava a chuva. amava a garoa, os pingos e o molhado na minha blusa.
amava sentir frio. amava vestir um casaco. e amava dançar nas poças cheias d’água enquanto andava pela rua.
eu amava viver e amava quando o universo fazia chover.
hoje, porém, a detesto. detesto as nuvens escuras, as ruas alagadas e ter que procurar cobertura em lojas apertadas.
detesto as gotas caindo, o vento forte e o sol sumindo.
detesto sentir que, em uma cidade tão linda, continuo tendo essa minha vontade de ir indo.
detesto, assim, viver e detesto quando o universo decide fazer chover.
4. borboletas.
eu invejo as borboletas.
invejo seu olhar, sua sagacidade e sua beleza. invejo suas asas, sua coragem e sua leveza.
invejo.
eu invejo.
invejo as borboletas.
invejo seu voo, sua liberdade e sua hora de repouso. invejo suas cores fortes e intensas. invejo seu jeito simpático, seu tamanho pequeno e sua forte presença.
invejo isso e invejo aquilo.
invejo tudo.
invejo a forma como as borboletas podem apenas se retirar.
podem escolher não ouvir.
podem escolher não experienciar.
invejo a forma como as borboletas podem, então, apenas olhar para frente e começar a voar.

